Dúvida

Mari
Shuzo Oshimi

 

Dúvida  
Franco da Rocha, 2019

Não idolatro pessoas, atletas, famosos, celebridades.

Não idolatro planetas, países, bairros, avenidas, ruas, cidades.

Não idolatro bandas, grupos, supergrupos, quartetos, quintetos, duplas.

Não idolatro ciências, físicas, mecânicas, pseudo, quânticas.

Não idolatro culturas, estilos, modas, etiquetas, marcas.

Não idolatro ideologias, ideias, ideais, discursos, políticas.

Não idolatro poetas, versos, textos, manifestos, palavras.

Não idolatro divindades, panteões, religiões, bíblias, almanaques.

Não idolatro alegrias, amores, paixões, euforias, festas.

Não idolatro famílias, modelos, automóveis, condomínios, casas.

Não idolatro cotidianos, a vida, o futuro, o presente, o engano.

Não idolatro minhas posses nem as posses de que não tenho.

Não idolatro o nada nem o caos nem o destino nem a sorte nem a dádiva.

Por hora, se me permitem a acidez inconveniente da resposta, a única coisa que desperdiço o meu tempo idolatrando de fato;

É a dúvida.

Elves Ferreira

Medo

Patrulha do Destino - Grant Morrison V1 - página 31
Grant Morrison e Richard Case

Medo
Franco da Rocha, 2019

Eu tenho medo.

Eu tenho medo do futuro
Eu tenho medo da morte
Eu tenho medo da morte
Eu tenho medo da morte
Eu tenho medo lá fora
Eu tenho medo da dor.

Eu tenho medo das pessoas
Eu tenho medo do meu ódio
Eu tenho medo da minha vida
Eu tenho medo do meu rancor.

Eu tenho medo da dúvida
Eu tenho medo das respostas
Eu tenho medo da angústia dos dias do cotidiano da sina da apatia o torpor.

Eu
Eu tenho medo do país
Dos jovens
Da política
Do presidente
Dos ministros
E do que a república se tornou.

Eu ainda tenho medo de sair de casa
Eu ainda tenho medo de perder as asas
Eu ainda tenho medo dos meus traumas
Eu ainda tenho medo de quem eu fui do que eu sou e do que me sobrou.

Eu tenho medo dos afetos
Eu tenho medo do sexo
Eu tenho medo de mulher
Eu tenho medo do carinho do afago do abraço sincero recíproco com nexo reconvexo
Eu tenho medo do amor.

Eu

Tenho

Medo

Do

Amor.

Eu tenho medo de muitas coisas
Eu tenho medo das pessoas
Eu tenho medo das coisas
Eu tenho medo das mudanças
Eu tenho medo de crianças.

Eu tenho medo de perder
Eu tenho medo de errar
Eu tenho medo de já ter perdido
Eu tenho medo de sonhar.

Eu tenho medo de dormir
Eu tenho medo dos meus sonhos.

Eu tenho medo de sorrir.

Eu tenho medo de tudo.

Eu só não tenho medo…

Eu só não tenho medo mesmo…

É do escuro.

Elves Ferreira

Eterno Retorno

Turim
Béla Tarr

 

Eterno Retorno
Franco da Rocha, 2017 

O grande mestre Monsueto
Uma vez disse assim:

“Pra quê rimar amor e dor?” 

Não vou mentir
Já escrevi
Alguns muitos versos de amor
Mas o mundo fez questão
De mostrar-me a realidade
Arrastando a minha face no asfalto

Não atoa
Tudo aquilo que sai de mim
Feito palavra ou música
surge através da dor
Já me acostumei
Mas não me conformo 

Meu espírito
Uma vez mais
Se quebrou
E dessa vez
Não tenho mais cola para consertá-lo
Não tenho mais forças
Para carregar qualquer que seja o fardo… 

Minha respiração
Ainda é falha
O sentido que busquei
E carinhosamente cultivei
Da mesma forma que minhas vontades
Se perdem, se espalham

Não sei mais ao certo
Se dos meus sorrisos
O que de fato é sincero
O que de fato é desespero
O que de fato é falso 

Meu espírito
Está quebrado
Meu coração
Um fardo pesado
E o mundo…
Tenho passado à odiá-lo

Devido a seus erros
E as suas injustiças
Não sei mais
Se estou de bem com ela
A vida. 

Tenho inveja da morte
Eu tenho inveja da morte
Tenho inveja 

Pois ela, só é dada
Como prêmio aos mais corajosos.

Elves Ferreira

Gratidão

gratidao
Yuki Suetsugu

Oi, tudo bem com vocês? Espero que esteja tudo bem, desejo que estejam bem.

Nesse início caloroso de domingo – acordei desejando que fizesse frio –, enquanto bebo um bom copo de café pra curar a ressaca da noite anterior e o amargo que reside em mim, decidi publicar o meu centésimo poema escrito, mas antes disso, preciso escrever dizendo a todos vocês;

MUITO OBRIGADO!!!!! 

Agradeço de coração a todos os que tem me acompanhado desde então, mesmo eu que não interaja muito – apenas publico os poemas e nada mais – e que também não publico com certa regularidade – acho que já posso prometer a meta de um poema por dia –. É muito especial saber que outras pessoas que nunca vi em minha breve vida até aqui, reservaram um espaço do seu precioso curto tempo para ler o que eu tenho a dizer para o mundo. Também nunca me passaria pela cabeça que muitos escritores tão sensíveis e talentosos fossem gostar do meu trabalho – sem falsa modéstia –, vocês são maravilhosos.

Obrigado mesmo, de verdade, de coração. Aqui, abro a janela da minha alma pra ver cada um de vocês sorrirem e ter mais que bons motivos para viver a vida que apesar de tudo, continua bela.

Espero conhecê-los um dia… Nem que sejamos simples estranhos nos esbarrando num qualquer dia cotidiano em um terminal de ônibus, ou numa estação de trem.

EVOÉ 

Gratidão
Franco da Rocha, 2015 

Aos Cem Poetas 

A aqueles
Que abriram
Caminho ao
Meu primeiro
Despertar
Me mostrando
Em cada
Palavra
A poesia
Que há
Seja numa
Flor que
Desabrocha
Até no
Inverno
Ou no
Vermelho
Que se faz
– Durante o Outono –
No rio
Tatsuta;

Um muito obrigado.

Aos Meus Contemporâneos 

A aqueles
Que me
Deram
Mais um
Sopro de
Vida
E que fazem
Do acaso
Um encontro
Da companhia
Uma prosa
Da cidade
Um conto
Da arte
Um todo
Do tudo
A poesia
Sempre
Ao lado
Deles
Um aprendizado
A cada novo
Dia
A eles;

Um até logo.

A Mim Mesmo 

Ao menino
A nostalgia
Dos bons
Tempos
Quando o
Mundo
Era imenso
E tinha como
Rei
Apenas uma
Criança;
Ao garoto
A liberdade
De um
Tempestuoso
Tempo de antes
Quando o seu
Mundo era
Pequeno;
Ao homem
Feito
– Já barbado –
Mas ainda
Menino
Ainda um
Garoto
A alegria
Do presente
O caminho
A seguir
É o seu
Tempo de agora
Sem medo
Nem arrependimentos
Pode ir
Descubra o
Infinito que é
O nosso
Mundo
Lá fora!
A você
Menino
Garoto
Homem feito;

Sobreviva
Resista
Aguente firme
Enquanto de pé
de passo em passo
Suba os degraus
E lá do alto, voe
Enquanto no chão
Respire, sorria, chore
Se erga mais uma vez
E renaça feito aurora.

A Todos Vocês 

Um verso
Para cada
Pétala
Um poema
Para cada
Flor
A todos
Vocês
Minha eterna
Gratidão.

Elves Ferreira 

A Poesia

A Poesia
Arte e Diagramação por Roger Neves, grande amigo e filósofo pra toda obra.

A Poesia
Franco da Rocha, 2015 

É o
Encontro
A sós
Consigo
Tudo aquilo
Que me
Cabe
Um filme
Em oito
Ou dezesseis
Um divã
Compartilhado

Se faz
Presente
Na voz
Do violão
Nos momentos
De amigos
Sorrisos e
Abraços
Todo o
Sentimento
Quando a
Vida
Ganha o
Palco

Mora
Na flor
De cerejeira
No copo
De café
Num ramo
De Arruda
No aroma
Do chá
Até mesmo
Na paisagem
De uma
Certa esquisita
Cidade

Por hora
É o que
Tenho a
Dizer
Sobre ela
Aquela
A quem
Minha vida
Pertence
A alma
Do corpo
O espírito
Da carne
O que
Há de ser
E – Ainda bem –
Apenas se
É.

Elves Ferreira 

A Minha Felicidade

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Yusuke Nakamura

A Minha Felicidade
Franco da Rocha, 2015 

Quem diria
Ou melhor
Nem mesmo
Eu, diria…
Que em
Tampouco tempo
Tantos chegados
Ganharia
Os de prosa
De plateia
De cena
De palco
A Cia.
Os de canções
De café
Dos bares
Os de Poesia.
– Claro que não posso
Deixar de citar os
Da boêmia. –
Há também
Aqueles
Que tornam
Sempre uma
Novidade
As tardes
De domingo;

Puxa vida…
No exato momento
Em que escrevo
Percebo e agora
Entendo o que
Minha mãe
Sempre me disse
“Sangue, meu filho…
Não importa!
É apenas um
Pormenor
Burocrata
De uma simples
Cartilha…”

Amizade
É isso
Aquilo
Que não
Se explica
Um laço
Vermelho
De fita
Cor de
Sangue
Que colore
De amor
As nossas
Vidas.

Elves Ferreira 

Morte

Death
Dave McKean

E, por fim, há a Morte. — Neil Gaiman.

Morte
Franco da Rocha
, 2015 

Não terei sido
Nem o primeiro
Nem o último
A escrever
Sobre ela;
Quanto ao “O último”
De fato
Será a própria
A fazê-lo
Não por vaidade
Mas sim para não
Sentir-se sozinha
Quando a hora chegar
No pouco tempo
Que lhe resta
Antes de fechar
A porta
Para todo
O fim
Se extinguir
Para todo
O nascimento
De um novo
Começo
Em que
Ela continuará
Caminhando
Entre nós
Flertando com
As histórias
De antes, entretanto
E depois
Nos amando
Incondicionalmente
Assim como nós
A amamos
Aquela que
Nos leva
Aquela que
Nos traz
A musa
Desencarnação
Tão humana
A Vida.

Elves Ferreira 

Sonho

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Sonho acumula tantos nomes quanto outros fazem amigos; mas amigos, ele se permite poucos. — Neil Gaiman.

Sonho
Franco da Rocha
, 2015 

O único
Lar de lugares
Viveiro de abrigos
E morada
Das noites
Dos dias
Dos livros inacabados
Devaneio este
Em que todos
Os mundos são
Apenas um
De uma única
Realidade
Que faz com que todos
Os que nela habitam
Se questionem
O que ainda
Não foi perguntado…
“E se o sonho
Fosse como
A vida?”

Elves Ferreira 

Destruição

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Nicolas Brondo

Nada novo pode existir sem a destruição do velho. As coisas são criadas, duram algum tempo e desaparecem. Impérios, cidades, poemas e pessoas. Átomos e mundos. — Neil Gaiman.

Destruição 
Franco da Rocha, 2015 

Foi o que
Tinha de ser
Até perceber
Que do teu
Papel cumprido
Apenas uma
Breve vida
Enquanto
Da natureza
O teu nome
A tua sina
Fez-se abdicar
De si mesmo
Desconstruindo-se
Em versos de escultura
Versos de pintura
Versos de música
Versos de poesia
A própria criação
Várias faces
De muitas
Vidas breves
Que só cabem
A um artista.

Elves Ferreira 

Desespero

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Sara Pichelli

Às vezes, ao fitar um espelho, você notará os olhos de Desespero sobre si e sentirá cravar em seu coração o anzol que ela arremessa. Desespero fala pouco, e é paciente. — Neil Gaiman.

Desespero
Franco da Rocha, 2015 

Um grito
De um sussurro
Estridente
Quando quase
Não há sequer
Força para voz
Apenas o ranger
Dos dentes
Que fazem tremular
A pele lanhada
Por cacos de vidro
Fragmentos de milhares
De janelas afiadas
Feito espelhos distorcidos
Porque tem
Gana de
Desejo e o quer
Apenas pra si
E quando nada mais
Resta a não ser
Sua própria
Esperança
O que lhe
Fomenta
É a tua própria
Ânsia.

Elves Ferreira